quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Era e Foi

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Palavras de Falta/Coquetel do Roberto
   Era uma rua perto de casa, cheia de casas cheias de nada. Havia ali um lugar há muito vazio, deixado a alugar. Não demorou mais e encheu de caixas, estantes e uma cadeira macia e escura, convidativa. O lugar tinha então um cheiro engraçado de casa. Cheiro de livro velho, de velho amigo, de guardar no peito.
   O lugar, ou a casa, logo se tornou um onde, pra onde e sem porque. Virou na verdade motivo e razão, virou atraso pra aula e abraço, aconchego e palavra. Umas tardes de chuva, uma coca de dois litros, algumas pilhas de vinis. Amizade, poeira, alguns cigarros, muitas goteiras. Risos, trocas, memória.
   O tempo, senhor das coisas, foi tornando o onde-casa-lugar num algo comum. Talvez por inveja, talvez pra manter secretos os mistérios da vida que eram desvendados aos poucos nos silêncios compartilhados ali. Decidiu que tudo foi viraria rotina, se perderia no acho que hoje não dá. Com o tempo, a casa foi se apagando. Sem que se pudesse perceber, a falta ia se instalando no peito, a falta que doi.
    O lugar silenciosamente disse adeus.Hoje a rua parece mais vazia. Hoje as paredes são lembranças de nomes e sons gravados na alma. Hoje as prateleiras vazias cheiram a recordação, a rua cheira a histórias, saudade.

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